sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Concurso de Escrita "Os livros fazem-se de sonhos..." - Texto de Lúcia Cordeiro (8º1)

O Mistério do Duque Albert

Naquela noite, estava cansadíssima e ainda tinha de escrever um conto que pudesse dar origem a um livro. Pensei muito, mas não conseguia arranjar uma ideia criativa. Acabei por adormecer. Sonhei toda a noite. Quando acordei, as ideias fervilhavam e a minha mão não conseguia acompanhar o meu pensamento. Era a história perfeita…
Em 1707, vivia em Inglaterra uma jovem e bela duquesa chamada Margaret.
Apesar de pertencer à alta sociedade inglesa, não se regia pelas suas regras e preferia pensar por ela própria.
O pai, um General inglês, talvez por não ter nenhum filho rapaz, tratava-a com os direitos de um. Margaret ia à escola, caçava, lutava e fazia todas as atividades destinadas a um rapaz.
A mãe era uma marquesa antiquada e fria que não apreciava as atitudes rebeldes da filha, mas sendo mãe ausente, não as proibia.
Margaret adorava o pai porque a incentivava a ser melhor e a lutar pelos seus direitos e depois tinha-me a mim, a sua amiga de confiança. O seu pai, a quem eu chamava de tio, tinha-me encontrado ainda bebé na mata. Não foi capaz de me abandonar, portanto, tornei-me um membro da família.
Éramos da mesma idade e, por isso, considerávamo-nos gémeas, apesar de sermos diferentes. Maragaret tinha cabelos da cor do Sol e olhos azuis como o céu da primavera, eu, Sophie, tinha cabelos da cor do fogo e olhos verdes como um prado.
Um dia, Margaret conheceu um jovem duque. Chamava-se Albert. Era alto e tinha o cabelo castanho, mas o que mais me intrigava nele era o seu olhar. Era enigmático… Eu sentia que ele escondia algo, apenas olhando para os seus olhos. Ao princípio, julguei que Margaret e ele eram apenas amigos, mas comecei a reparar nos olhares cúmplices que trocavam e confrontei-a.
- Margaret, reparei que tu e o duque Albert parecem muito próximos. Passa-se algo que não me tenhas contado?
- Não, Sophie, claro que não! Nós apenas… - Margaret parou de falar e olhou para a janela do meu quarto – Não te consigo mentir… Eu e o Albert vamos casar, muito em breve anunciaremos o nosso noivado.
- Não posso acreditar! – aproximei-me e abracei-a – Estou tão feliz por ti!
- Pois… Vou deixar-te assimilar tudo, se precisares de mim, chama-me – disse tristemente.
Margaret abriu a porta e, já virada de costas, perguntei-lhe:
- É mesmo isto que tu queres?
- É isto que é suposto eu querer… - suspirou, sempre voltada de costas.
Decidi ir falar com o duque Albert. Encontrei-o no salão, sozinho, olhando fixamente para a lareira onde o lume crepitava.
- Duque Albert, posso falar consigo?
- Trata-me por Albert, afinal somos os dois jovens. – disse descontraidamente.
- Albert… A Margaret contou-me sobre o vosso noivado, parabéns.
- Contou-te? – perguntou sem nunca tirar os olhos do lume – Calculei que o iria fazer.
- E também me disse outra coisa… - acrescentei.
De súbdito, Albert olhou para mim, os seus olhos continuavam enigmáticos mas pareciam furiosos.
- O QUE É QUE ELA TE DISSE!? – gritou, saltando do cadeirão – QUE MENTIRAS INVENTOU ELA!?
- Ela só… Só disse… Disse que… - murmurei assustada.
- FALA! – aproximou-se e apertou-me o pulsos – O QUE É QUE ELA TE DISSE!?
- Eu perguntei-lhe se ela queria mesmo casar e ela respondeu… Que era… Era suposto ela querer… - disse, soluçando e chorando.
Albert largou os meus pulsos e sentou-se de novo no cadeirão. Eu saí do salão a chorar e corri para o meu quarto. Assim que entrei, tranquei a porta e olhei para os meus pulsos. Estavam negros como um corvo. De repente, alguém bateu à porta.
- Sophie, peço imensa desculpa pelo que fiz, exaltei-me! Nunca tive intenções de te magoar. – desculpou-se Albert.
Um papel deslizou por debaixo da minha porta e ouvi o som dos seus passos a afastar-se. O papel tinha um texto escrito à mão que dizia: “ Sophie, eu sei que o que fiz está errado, portanto quero compensar-te. Convido-te para jantares comigo no meu palacete, dento de dois dias. Se não quiseres ir sozinha, podes levar alguém para te acompanhar, apenas quero falar contigo e esclarecer tudo.”
Passaram-se dois dias e decidi ir sozinha ao palacete de Albert. Estava cheia de medo, mas para mostrar que era corajosa (ou estúpida), fui sem acompanhante. Não disse à Margaret onde ia, nem lhe contei o sucedido, deixei apenas um bilhete no meu quarto a dizer onde estava.
Nunca tinha visitado o palacete de Albert, era grande e assustador. À entrada, fui recebida por um mordomo vestido de vermelho. Por dentro, o palacete era ainda mais aterrador. As paredes eram negras, estava iluminado com velas vermelhas e todos os quadros apresentavam a figura do duque. Tinha a sensação de que estava a ser seguida, para além do mordomo, que me encaminhou a uma sala onde Albert estava. Deixou-nos a sós.
- Sophie, ainda bem que vieste, senta-te. O jantar está a ser feito.
Sentámo-nos os dois à mesa, Albert agarrou a minha mão e eu larguei-a imediatamente.
- Acerca do que aconteceu, peço desculpa, exaltei-me demasiado.
- A que mentiras se referia no outro dia?
- Estás muito bonita hoje. – disse lambendo os lábios – Diz-me, Sophie, tens algum pretendente?
- Não desvie a conversa! Que mentiras são essas!? E porque estava tão preocupado com o que a Margaret me poderia ter dito!?
- Não é nada. Não te preocupes, bela e jovem Sophie.
- Devo relembrar-lhe que está comprometido com Margaret e que esses não são comportamentos decentes.
- Desculpa se te ofendi. – murmurou olhando para o chão.
- Só sabe pedir desculpa!? E que tal responder às minhas perguntas!?
Bateram à porta da sala. Entrou uma jovem rapariga, era parecida com a Margaret, da mesma altura, loira e com olhos azuis tristes. Trazia o jantar.
Jantámos calmamente, no fim, comecei a sentir-me zonza, reparei que Albert tinha uma faca e caminhava na minha direção.
Fechei os olhos e tudo ficou em silêncio.
- Será isto o que sentimos quando morremos? – pensei.
Abri os olhos, Albert estava caído no chão. Vi um vulto que se aproximava, abraçou-me e desmaiei nos seus braços.
Quando acordei, estava no meu quarto. Ao lado da minha cama, encontrava-se Margaret e a rapariga loira que trouxera o jantar.
- Está a acordar. – disse Margaret à rapariga loira.
- O que se passou? Como vim aqui parar? – perguntei ainda confusa.
- Desculpa Sophie, não queria ter-te metido nesta confusão. – disse Margaret chorando.
- Quem é ela? O que aconteceu? – perguntei preocupada.
- Chamo-me Camille, não sei se te lembras, mas servi-te o jantar na noite em que estiveste com o Albert.
Abanei a cabeça a confirmar.
- O Albert era um assassino. Ao princípio, achei que ele era apenas estranho, segui-o e testemunhei um assassinato. Ele viu-me e aceitei a condição de me casar com ele para não me matar. – explicou Margaret.
- Agora, faz tudo sentido… - murmurei.
- Ontem, reparei que não estavas em casa e fiquei preocupada. Encontrei o bilhete a dizer onde estavas e fui ao palacete o mais rápido possível.
- E o Albert? Só me lembro de o ver no chão. – Perguntei.
- Eu tive de o matar. – disse Camille – Ele tinha-me como refém e só não me matava, porque precisava dos meus serviços como empregada.
- Camille abriu-me a porta do palacete. Fomos as duas à sala e vimos que ele ia matar-te. Não tivemos escolha, eras tu ou ele.
- Eu sabia! Tu não te querias casar e eu sempre soube que o Albert escondia algo. – disse e adormeci de novo.
Quando acordei, Camille já tinha partido para longe e tudo tinha voltado ao normal.
Nunca mais se voltou a ouvir falar do Duque Albert e o resto da minha vida e da de Margaret foi em paz.


Texto selecionado para o concurso “Os Livros Fazem-se de Sonhos…” – 8º Ano
Agrupamento de Escolas do Forte da Casa.
Dezembro de 2011

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